30 novembro, 2008

UM PAÍS SE FAZ COM HOMENS E LIVROS
Ezequiel Sena

Nada mais instigante do que iniciar o texto com uma frase edificante, conhecidíssima e atual do notável escritor José Bento Monteiro Lobato (1882-1948); paradoxalmente outro que sequer pertence ao meio literário, Bill Gates, o multimilionário da informática, que, sem nenhum constrangimento, afirmou: "Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros". Verdade, sem livros e sem leitura os nossos filhos serão incapazes de articular e escrever com desenvoltura - inclusive, a sua própria história. Os gênios são vanguardistas, pois enxergam muito além de sua época, talvez seja isso que explique o sucesso do monstro sagrado da informática.

Sábado passado (25/10), o Programa Aprovado da Rede Bahia, apresentado por Jorge Portugal, aproveitando as comemorações que antecedem o Dia Nacional do Livro – 29 de outubro -, para fazer uma reflexão sobre o centenário da morte e da genialidade que é a obra do nosso escritor maior Joaquim Maria Machado de Assis, (1839-1908). O convidado, ninguém melhor do que o professor de literatura Evert Reis, esclarecendo os questionamentos de muitos jovens alunos. Louvável atitude. Mas ao trazer escolas, professores ou escritores para suas dependências, a TV oportuniza a muitas pessoas, principalmente, crianças e adolescentes a chance de ter contato com o mundo mágico dos livros. E esse mundo precisa ser resgatado também dentro de nossas casas. Muito bem lembrada, pelo mestre Evert Reis, de outra admirável frase: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” do saudoso poetinha Vinicius de Moraes, o que enriqueceu e deu mais brilhantismo ao programa.

Recordo-me que em meados de 1977, quando estive de férias no Rio de Janeiro, a curiosidade levou-me à Rua Marquês de Olinda, em Botafogo, para conhecer a Livraria José Olympio Editora, lá chegando, fiquei admirado com a quantidade de livros. Em destaque uma frase que jamais esqueço, estava ou talvez continue ainda grafada no alto da parede da editora, justamente no hall de entrada, e que aproveitei para dar o título a este texto. Para se ter uma idéia, a Editora José Olympio foi a responsável pelo lançamento da maioria dos escritores renomados e outros desconhecidos do grande público leitor brasileiro. Muitos deles ainda neófitos surgiram graças à sensibilidade do proprietário e editor - José Olympio Pereira Filho. Foi assim com a Rachel de Queiroz que, com apenas vinte anos de idade, estreou com seu livro O Quinze – a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras; Graciliano Ramos, com Vidas Secas, seu livro de estréia; o paraibano José Lins do Rego, torcedor doente do Fluminense, autor de Menino de Engenho; o João Guimarães Rosa com Sagarana; o José Américo de Almeida com A Bagaceira; e, o nosso poeta maior Carlos Drummund de Andrade. Mas, enfim, uma lista imensa de autores de todos os rincões do nosso país passara pelas mãos do “mecenas” da literatura.

Evidentemente que o mundo moderno nos retira quase todo o tempo. A busca incessante pelo pão de cada dia obriga-nos a trabalhar, produzir, render sempre mais e mais... Isso se constitui no maior pilar da sociedade de consumo. No corre-corre diário, nós, os pais, quase não temos tempo para ler - e o que é pior, para perguntar se os filhos lêem. Aquele velho hábito de ler e contar historinhas para as crianças dormirem foi substituído pelas horas à frente da televisão e do computador. O resultado é refletido nas escolas: alunos que não sabem interpretar, porque lêem mal, consequentemente falam mal e se expressam pior ainda. E na trilha de suas vidas irão entender muito pouco as adversidades que o mundo tem a lhes oferecer.

Imagino que é impossível formar cidadãos sem capacidade de argumentação e sem um mínimo de conhecimento. Acredito que só se consegue vencer o analfabetismo através dos livros. Por isso, nossas crianças e nossos jovens precisam ser estimulados a ler mais, para melhor encarar a vida. Dizer isso a garotada e não lhes oferecer condições adequadas é “chover no molhado e desvanecer no tempo”. O ambiente ideal requer, além de silêncio, exemplos. Pais que não lêem, não podem exigir esse hábito dos filhos. Muito menos da escola para fazer alguma coisa por eles. Enquanto a disposição para a leitura se restringir a trabalhos exigidos por disciplinas escolares, estaremos, infelizmente, perdendo a guerra para a ignorância. Quem não lê, não sabe, não formula, não avalia, não diferencia e não usa a sensatez na hora de decidir. O que é uma pena!
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